Cultura

A genialidade musical do compositor Luiz Caldas, por MAURICIO MATOS

Deveríamos sempre aplaudir Luis Caldas, rei da Axé e músico mais completo da Bahia
Maurício Matos , Salvador | 21/07/2017 às 20:24
Luis Caldas no programa de Bial
Foto: DIV
      
 Não foi à toa que o talk show ‘Conversa com Bial’, programa televisivo da Rede Globo ancorado pelo jornalista Pedro Bial, bateu recorde de audiência nesta semana com a entrevista de Luiz Caldas. Considerado o pai da ‘axé music’, o cantor baiano, nascido em Feira de Santana, mostrou que o seu talento vai muito além de músicas como ‘Fricote’, ‘Tieta’, ‘Ajayô’, ‘Magia’ e tantas outras do seu vasto repertório.

Multi-instrumentista e autodidata, Luiz Caldas teve a oportunidade de, durante o programa, divulgar o seu arrojado projeto de lançar um CD por mês, de forma gratuita, pela internet, com músicas autorais e dos mais variados gêneros musicais, como samba, valsa, salsa, forró, pop, rock, dentre outros. Os números impressionam: são 64 discos, cerca de 700 canções gravadas e, aproximadamente, 25 milhões de downloads. Tudo isso no site do artista, no endereço eletrônico www.luizcaldas.com.br.

Quis o destino que Luiz Caldas 'estourasse' para a Bahia e para o Brasil através da ‘axé music’, mas o seu talento não se resume a isso. A versatilidade musical que tem é algo impressionante. “Músico mais completo da Bahia”, segundo classificação do tecladista Ademar Andrade, líder da banda Furta Cor. Prova disso, é que, em 2010, Caldas ousou e lançou o disco de rock 'Castelo de Gelo', sem sombras de dúvidas, melhor álbum entre muitas discografias de artistas e grupos que se auto intitulam roqueiros no Brasil.

O 'flerte' com o rock não é algo recente na sua carreira. Nos primeiros carnavais, com a fenomenal banda 'Acorde' Verdes', cuja formação contava com Alfredo Moura (teclados), Carlinhos Brown e Toni Mola (percussão), Cesinha (bateria) Carlinhos Marques (baixo) e Paulinho Caldas e Silvinha Torres (backing vocais), ele já tocava e cantava ‘Sultans Of Swing’, um dos maiores sucessos da banda de rock ‘Dire Straits’. 

Tudo bem, o inglês do cantor e compositor baiano era (e ainda é) meio embromation, mas os solos de guitarra não deviam nada aos de Mark Knopfler, ex-líder do grupo britânico. Era ‘rock and roll’ puro e, até hoje, a canção faz parte do repertório de seus shows.

Infelizmente, nessa terra em que críticos musicais não sabem fazer um acorde de mi menor com sétima no violão – coisa que meu sobrinho Dudu, de apenas cinco anos, faz de olho fechado – quem levam os louros são os mesmos artistas de sempre, sem um décimo do talento de Luiz Caldas, que atingiu o auge na carreira em meados dos anos de 1980 do século passado.  Na minha avaliação, não pela capacidade musical, mas por uma combinação de fatores que fez dele um ídolo popular, cujos fãs talvez nem saibam os verdadeiros motivos para idolatrá-lo.

         Luiz Caldas é gênio, assim como o guitarrista Armandinho Macedo, o tecladista Ademar Andrade e os percussionistas Carlinhos Brown e Neguinho do Samba (1954-2009), mas sofre do mesmo mal que o guitarrista americano Frank Zappa (1940-1993). A genialidade de Zappa, cujos álbuns são considerados essenciais para história do rock, do jazz e do fusion, muitas vezes foi incompreendida pelo grande público.

   Em certa ocasião, o guitarrista declarou que “não aguentava mais ser aplaudido pelos motivos errados”. Pois é, deveríamos aplaudir Luiz Caldas pela sua genialidade e não por ele ser o 'pai da axé music', título, ao me ver, inversamente proporcional ao tamanho do seu talento.