Cultura

No Carnaval baiano, lugar de gordo é no sofá da sala, por OTTO FREITAS

Jeffinho já passou muitos carnavais na Ilha de Itaparica, mas, hoje, está na dúvida no que fazer.
Otto Freitas , da redação em Salvador | 19/02/2017 às 12:16
Passistas plus size da Rosa de Ouro
Foto: DIV

Neste verão que está se acabando já teve gorda na praia, de biquini e tudo, em Ondina, em Itapuã e no Farol da Barra. Mulheres acima do peso mostraram e valorizaram seus corpos fartos e curvilíneos, sem medo de ser feliz. Em cima do trio elétrico, sempre aparece uma gordinha ou outra, disfarçada ou não. Mas no Carnaval desse ano há uma novidade: vai ter gorda no sambódromo também, em São Paulo.

Além das gostosas malhadas com os peitos e bundas de fora, esse ano a Rosas de Ouro vai levar para a avenida algumas passistas gordas, selecionadas em concurso com esse objetivo. Pode ser balofa, mas precisa ter samba no pé. Muitas moças plus size, do verbo tamanho grande, arregaçaram na quadra da escola, que já tem sete títulos conquistados no Carnaval paulista. 

Mas como tudo que envolve gordo sempre tem comida no meio, só de sacanagem, a presença das redondas entre as passistas da escola de samba é por conta do enredo: vai contar a história do banquete. Não será uma exaltação à comida (a gastronomia foi tema de outro Carnaval), mas uma celebração do convívio à mesa; o prazer de uma refeição com a família e com os amigos, saboreando lentamente os alimentos. Aliás, Jeffinho sempre defendeu essa mesma tese. Comer por comer não faz sentido.
 
                                                                @@@@@@

Mas até agora o gordo não sabe o que vai fazer no Carnaval desse ano. Ao longo da vida já empreendeu várias fugas nos dias da folia, embora tenha passado boa parte da vida dentro dela, menos por prazer, mais por obrigação profissional. Como no Carnaval baiano não tem lugar para gordo - salvo nos sofás de casa, em frente à TV, ou dos camarotes luxuosos - Jeffinho prefere ficar de fora, inclusive porque não tem grana para bancar camarote de luxo. 

Para efetivar suas fugas carnavalescas, já passou por situações ridículas, como ficar na varanda de casa, de pijama, lendo Dostoiévski e assistindo a galera voltar da rua, todo mundo cansado, suado e muito doido de alegria. Também já fez recolhimento espiritual no Retiro do São Francisco, em Brotas, e temporada de repouso na bucólica e silenciosa Quinta da Beneficência Portuguesa, lá para os lados da rodovia Cia-Aeroporto.  

Mas a ilha de Itaparica, onde sempre passava férias de invernos e verões, foi o seu destino mais frequente para o exílio carnavalesco. Era uma maluquice: pescar siri, tomar banho de balde na fonte, catar manga e caju, jogar baralho a doses de conhaque e até apostar com um sapotizeiro quantas voltas se fazem em torno do seu tronco com garrafas de vinho Chapinha vazias. O recorde, salvo engano, foram quatro voltas e quase 80 garrafas, consumidas por meia dúzia de pessoas, em cinco dias de Carnaval. 

Esse ano Jeffinho ainda não sabe o que vai fazer. Está pensando seriamente em passar o Carnaval em São Paulo, para assistir ao desfile da Rosas de Ouro e dar uma força para as colegas passistas plus size. Afinal, o gordo unido jamais será emagrecido.