Cultura

Prefeitura cria burocracia para vida de cachorro, por JOLIVALD FREITAS

Jolivaldo Freitas é cronista
Jolivaldo Freitas , Salvador | 25/09/2016 às 20:01
Jura de amor
Foto: Proibido
   Gosto de animais, coisa que tomei gosto com o passar do tempo e tenho pena daqueles que andam soltos pelas ruas, principalmente os cães e os gatos, que, quando vão ficando velho são abandonados pela “família”, por ser custoso oferecer o mínimo de saúde e conforto e também trabalhoso atender aos animais que não servem mais para balançar o rabo, lamber as mãos e mostrar sua costumeira e desinteressada alegria.

  Daí que acho louvável e digno de nota a atuação dos chamados voluntários, que cuidam dos animais abandonados, maltratados e jogados ao leo, mesmo que seja em locais improvisados, onde basta um teto num terreno baldio e a garantia para os bichos, de atenuação das suas dores, um pouco de sossego e carinho e um existir decente.

  Mas soube que a partir de agora – e eu tenho certeza que o prefeito ACM Neto vai mandar consertar esta ausência de sensibilidade, pois também me disseram que ele cria um cão – os voluntários que querem promover  a adoção de filhotes e bichos idosos, precisam tirar um alvará para que isso aconteça. 

   Não é nenhum atestado de saúde do animal, não. É um documento como se fosse para vender, por exemplo, cachorro-quente (não agüento trocadilhos, fazer o quê?). 

  É como se fosse um comércio. Mas os burocratas da prefeitura sabem que a adoção não tem nenhum caráter mercantilista. É a forma de fazer com que o soteropolitano ajude a diminuir o sofrimento de cães, gatos, coelhos, etc.

   Acredite que em minha carreira de repórter já fiz matérias mostrando que em Salvador abandona-se de tudo: jacaré filhote nos rios e lagos, como aquele que cresceu lá no Itaigara e que nem sei se ainda está lá ou foi levado para o zoológico. Tem quem gosta de jibóias e quando elas crescem jogam onde podem, sem falar em micos, camaleão e coelhos. Nos casos de cães e gatos, que não têm como se readaptar a uma vida digamos “selvagem”, o que salva é a ação caridosa dos voluntários.

   E, se cada vez que o voluntário for levar os animais para algum ponto para ser adotado, tiver de tirar um alvará, vai ser complicado. Todos os voluntários que conheco – advogados ou advogadas, professora, médicas e agente federal – trabalham no dia a dia, cuidam dos animais levando-os a veterinários para vacinar, dar banho, tosar e são tantas as ações e a maioria ainda tem família para dar atenção. Então, para que o alvará para se instalar durante algumas horas num ponto qualquer da cidade que não vai atrapalhar o trânsito, não incomoda o transeunte e não oferece nenhum tipo de dissabor para a população?

   O que falta de verdade é sensibilidade das autoridades para entender que se trata de um ato “humanitário” ou como diz um personagem do “Altas Horas”, para ajudar aos “seres humaninhos”. Imagine se não fosse a atitude e a sensibilidade dos voluntários, quantos cães e gatos estariam soltos pela cidade. Sofrendo, sendo maltratados, doentes e disseminando doenças frente à população.
Como disse há décadas o então ministro Antonio Rogério Magri, inocentemente, mas até que podia ser de verdade: “cachorro também é gente”. Fora o alvará. 

   Ninguém cuida dos animais; e quem cuida não tem tempo a perder. Este alvará é apenas mais uma pura bobagem de uma cidade que perde sua inocência para a burocracia, cujos burocratas querem controlar até coco de passarinho. 

*** Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br