Bahia

MORRE O POPULAR FOBA DE SERRINHA GUARDIÃO DOS SOLTEIROS DA CIDADE (TF)

Sepultamento de Foba acontece nesta segunda-feira, 8, em Serrinha
Tasso Franco , da redação em Salvador | 08/07/2019 às 13:34
Florisvaldo Freitas, o Foba, 79 anos
Foto: BJÁ
   Será sepultado nesta segunda-feira, 8, em Serrinha, uma das figuras populares mais queridas da cidade, Florisvaldo Freitas, conhecido por Foba, aos 79 anos de idade. Um infarto, de maneira silenciosa, o matou em seu quadro residencial onde vivia com a irmã Dilma após um domingo normal em que fez cooper, almoçou, mas, não prosou. 

   Dilma disse que era um costume sentar-se com amigos (as) à frente da casa, aos domingos e feriados, para prosar. E, ontem, Foba não saiu do quarto após tomar um banho. Ela desconfiou e bateu na porta: - Foba, Foba, Foba... Ele não respondeu. Ela então abriu a porta e ele estava caído, ainda molhado do banho. Já estava morto. Amigos e familiares choram à sua morte.

O MAIS ELEGANTE E CHARMOSO 
DA GERAÇÃO BRILHANTINA

  Foba nasceu em 1939. Integrava uma geração de serrinhas que cultuava a boemia, a brilhantina, a lambreta e o bom vestir próprios do final dos anos 1950 e começos dos 60 do século passado. Muitos de nós, um pouco mais jovens, tínhamos inveja (no bom sentido) dessa turma integrada, também, por Renatinho, Cleon Ferreira, Claudio de Nozinho, Aldemário, Braulinho, Hamilton Bacelar, Dodô do Violão, Deuilson e outros. Festeiros, galans, alguns deles bancários e que usavam gravata e paletó no dia-a-dia.

   Foba era especial. Carnavalesco nato usava uma toalhinha no pescoço e lança perfume. Apreciava Vadinho, mas, não o imitava. Tinha um modelo próprio. Solteiro inveterado, nunca se casou nem teve filhos. Morreu assim como último guardião dessa geração de solteirões, o que, aliás, ainda existe um outro, na Serra, de nome Quarentinha.

   Foba nunca saiu de Serrinha salvo para ir em Salvador visitar os amigos ou ir ao médico. Hospedei-o algumas vezes no Tororó, onde morava com outros serrinhas. Ele dizia: - Hi! aqui vocês só comem ovo e aimpim! Era época de tempos duros, de quem saira do interior para ir morar na capital.

   Lá um dia, Foba surpreendeu a todos dizendo que largaria a boemia (nem cantava; nem tocava instrumentos) para colocar um bar. Ficamos admirados: como uma raposa poderia tomar conta de galinheiro? Ele respondeu: - Vou deixar de beber. E deixou. Foram 28 anos à frente do Bar de Foba (vide abaixop) uma pequena tenda especializada apenas em cerveja bem gelada.

   Foba viu o tempo passar na Serra e nunca se interessou pela globalização. Ele era a aldeia sem entender a aldeia global. De repente estava maduro, coroa, ser bancário já era uma profissão sem grande futuro, esqueceu os estudos e a alternativa foi um bar para atender os amigos e um emprego sazonal na Prefeitura, do amigo Ferreirinha, frequentador de sua tenda.

   E assim viveu até seus últimos dias. Não abandonou a paquera e o namoro. Tinha um volks que era (ou ainda é) um dos mais conservados de Serrinha. Só tirava da garagem para passeios dominicais e para visitar uma viúva com quem compartilhava o amor.

   Hoje, no Hospital Português, Salvador, onde fui fazer uma revisão médica, encontrei um parente, Fernando Paes, a caminho de uma cirurgia de próstata, e ele me disse: - Foba partiu. E eu respondi: - É o caminho de todos nós. (TF)

MATÉRIA PUBLICADA NO BJÁ
EM 29 DE AGOSTO DE 2011

 Depois de funcionar 28 anos initerruptos em frente ao Fórum Luis Viana Filho, em Serrinha, o Bar de Foba, reduto de serrinenses que residem em Salvador, de velhos amigos dos anos 1960/1970 e da boemia local, fechou as portas. Era o local que vendia a cerveja mais gelada da Serra e onde se sabia das fofocas políticas e da vida dos antigos moradores.

  Foba funcionava como uma espécie de repórter local. Sabia (e ainda sabe) tudo o que acontece na cidade e tem sua vida toda em Serrinha onde nasceu e sempre morou. Filho de Cícero Freitas, velho amigo de Nozinho, Lourinho, Bráulio Franco, padre Demócrito, Carlos Mota e outros, Foba se chama Florisvaldo Freitas e já foi bancário, boêmico e pequeno empresário. 

  Hoje, aos 71 anos de idade, aposentado, ainda solteiro cobiçado, diz que não abrirá outro bar. Enfrentou uma longa disputa juridica com o dono da área onde funcionava seu bar, Didi Queiroz, e perdeu. Mas, ainda assim, vai recorrer da decisão judicial e interpor uma ação de reparação requerendo uma compensação pelas melhorias que fez no local.

  Os frequentadores do local pensam em fazer uma manifestação de apoio a Foba: os boêmios unidos jamais serão vencidos. 

   Grandes tertúlias alcoólicas e lítero-politicas aconteceram no Bar de Foba, algumas delas comandadas por Paulo Henrique, Bira de Zezito, Israel advogado, Israel empresário, Ferreinha e Cláudio Pimentel, Gatão, Tadeu Fiúza, Boca do Mundo, Fernando Lapa, Marcos Freitas, Guido, Ribeirinho, Freitinhas e tantos outros.

  Espaço que tem muita história, deixa saudades e é uma perda irreparável. (TF)