BAHIA HOJE: Minha experiência como editor do DOMINGO

Limiro Besnosik
02/11/2017 às 11:46
- Pô, Tasso, editor de Polícia! Eu nunca trabalhei nem como repórter de Polícia!

- Por isso mesmo! Eu quero alguém que não tenha os vícios do pessoal de Polícia, com aqueles jargões todos!

E foi assim que o desafio chegou, o maior, até então, de minha vida profissional: montar uma equipe de repórteres e ficar à frente de uma editoria com a qual tinha pouca intimidade, num jornal totalmente novo.

Com sugestões do próprio Tasso Franco começamos a arrumar as coisas. O Bahia Hoje estava cheio de “focas”, jornalistas recém-saídos da faculdade, doidos pra trabalhar, e a gente tinha que fazer a seleção. Experientes mesmo na Polícia só Antônio Santos, ex-Jornal da Bahia, e Erival Guimarães, que conseguimos convencer a sair d’A Tarde. Depois da peneira ficaram na equipe Marjorie Moura e Marcos Navarro.

Mas aí, nova reviravolta. O BH ia sair também aos domingos, e veio Tasso com mais uma novidade: como eu tinha demonstrado uma certa intimidade com a informática (cheguei a ministrar aos recém-chegados um dos cursos sobre o editor de texto adotado pelo periódico), ele queria que eu assumisse a editoria do domingo, passando a secretário de redação. Confesso que tremi nas bases. Será que dou conta? Esse negócio vai dar certo?

Bom, como quem tá na chuva é pra se molhar, resolvi topar. A editoria de Polícia passou para Antônio, com Erival na sub. Além de fechar a primeira fiquei também com a edição da página de opinião, a 4, mas sobre isso falo mais adiante.

Mas a grande encrenca ainda estava por vir: a edição de domingo iria para as bancas na noite do sábado, algo impensável na era da máquina de escrever. Só mesmo a informatização poderia conseguir essa proeza. E olha que o setor de classificados recebia anúncios até às 18 horas, superando em pelo menos quatro horas A Tarde, que encerrava sua captação às 14 horas.

O primeiro número de domingo foi um parto. A edição só desceu para a rotativa lá pelas 21 horas, e mesmo assim lá pelas 2 da madrugada fui chamado de volta ao jornal para ajudar a resolver uma pendência que surgiu em um dos títulos. Creio que o BH só conseguiu circular perto das 5 da matina.

As edições seguintes foram mais tranquilas, mas não era fácil fechar um jornal às 3, 4 da tarde num sábado, dia de poucas notícias, especialmente as policiais. Naquele tempo não havia a internet para dar um help. Era tudo na base da reportagem: e cadê o repórter que não volta? Não tem nada nesse B.O.? Que é que há, gente? Não acontece nada nessa cidade?

A maior parte da edição era aprontada durante a semana, com pautas especiais. O que ficava em aberto era o primeiro caderno, mais especialmente a capa. E era um dia sem almoço pra mim. Chegava em casa à noite tão tenso, tão travado, que nem dormir conseguia de imediato, apesar de muito cansado.

A edição dominical deu tanto certo que A Tarde começou a fazer duas edições nesse dia. Uma no sábado à noite e outra no domingo, no horário normal.

Porém, algo que jamais esquecerei é a emoção de ter participado da confecção e assistido a saída do primeiro exemplar do jornal no dia 21 de julho de 1993. Estávamos desde abril daquele ano trabalhando internamente. As equipes de reportagem saíam às ruas, cumpriam suas pautas, voltavam pra redação, faziam os textos e íamos compondo os pilotos, mas nada do “filho” nascer.

Nessa noite, no entanto, aconteceu. Foi uma emoção só. Grande parte da redação nas oficinas, todos empolgados, de olhos lacrimejados, felizes e realizados. Depois, parte da turma saiu pra comemorar no mercado do Rio Vermelho. Farra até o amanhecer. Uma das poucas vezes em minha vida, pouco dada a essas extravagâncias (pelo menos para mim). Guardo comigo até hoje um exemplar desse primeiro número, com os autógrafos de todos os colegas da redação.

O BH foi, sem dúvida, uma das experiências profissionais mais ricas de minha vida. Aprendi muito.

Melhorei meu texto, peguei um pouco a manha dos artigos, ainda que a fórceps, pois muitas vezes tinha que fechar buracos na página de opinião por falta de material de articulistas, além de redigir alguns editoriais (imagine a responsabilidade!).

Um dos textos que mais me marcou foi um editorial sobre a morte de Ayrton Senna. Ainda hoje sou fã do cara. O País todo estava em lágrimas, uma comoção nacional. Escrevi com toda a emoção que sentia naquele momento. Pra completar, Flávio Luiz ainda me fez uma charge belíssima, com Ayrton dando um abraço no mapa do Brasil. Uma pintura!

É isso. Não dá pra resumir em poucas linhas essa vivência, tão cheia de significados para mim. Uma pena que o Bahia Hoje tenha tido uma existência tão curta, mas as inovações trazidas por ele terão sempre um lugar de destaque na história do jornalismo baiano. Parabéns a todos nós que pudemos participar dessa maravilhosa aventura profissional.