Dias de luta – e de glória. Negros (as), um longo caminho a percorrer

Ireuda Silva
20/07/2017 às 18:30

Mesmo quase 130 anos após a abolição da escravatura, os negros e negras do Brasil ainda têm um longo caminho a percorrer para minar, definitivamente, o preconceito que contamina a estrutura de nossa sociedade. Embora constituamos 53% da população brasileira, ainda somos sub-representados em todos os espaços imagináveis, bem como em produções culturais, na política e nos meios de comunicação de massa.

A diferença se torna ainda mais gritante quando se trata de mulheres negras – duplamente excluídas e discriminadas. Nesse sentido, o Dia Internacional da Mulher Latina e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageados em 25 de julho, nos servem para reforçar a importância dessa reflexão – e lembrar que os louros da vitória não vicejam sem que enfrentemos a aridez de uma luta árdua.

O Dia Internacional da Mulher Latina e Caribenha teve como marco o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado em 1992, em Santo Domingo, na República Dominicana. Todos os anos, debates, seminários e encontros em diversos países comemoram a data que se tornou símbolo de resistência e autoafirmação. No Brasil, o Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, sancionado em 2014, também é uma importante forma de reconhecer a luta das negras brasileiras em nossa sociedade marcada pelo machismo e pelo preconceito racial.

Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que viveu no século XVIII, tendo se tornado líder do quilombo após a morte do companheiro. Sob o seu comando, a comunidade sobreviveu por 20 anos à escravidão, até que a população de 79 negros e 30 índios foi morta ou aprisionada pelas tropas de Luiz Pinto de Souza Coutinho.

Tereza é um exemplo de bravura para todas nós, bem como a baiana Maria Felipa de Oliveira. Marisqueira e pescadora, ela lutou pela Independência da Bahia, em 1823, ao lado de Maria Quitéria e Joana Angélica. Ela liderou um grupo composto por mais de 200 pessoas, entre as quais estavam índios tupinambás e tapuias, além de outras mulheres negras, nas batalhas contra as tropas portuguesas que atacavam a Ilha de Itaparica, onde morava. Conta-se que o grupo foi responsável pela queima de pelo menos 40 embarcações portuguesas. Nesse mês de julho, temos razões de sobra para resgatar a sua memória e homenageá-la.

Também não podemos deixar de ressaltar o Dia Municipal da Mulher Negra, que é comemorado em Salvador na mesma data. Este ano, concederemos mais uma vez, na Câmara Municipal de Salvador (CMS), o Prêmio Maria Felipa a mulheres negras e baianas que representam a nossa força e importância para a cultura e para a sociedade brasileira, bem como aquelas que vêm contribuindo para a promoção de ações envolvendo questões de raça e gênero em todo o mundo.

Em suma, que neste mês de julho lembremos da nossa missão e do nosso valor, o qual precisamos reafirmar diariamente. Outro dia, enquanto lia sobre o tema sobre o qual traço esta breve análise, me deparei com uma frase da escritora caribenha-americana Audre Lorde, que, em poucas palavras, definiu com competência a luta e o sentimento de união em torno da igualdade enquanto ideal comum: “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira, mesmo que as correntes dela sejam diferentes das minhas”.