BAÍA DE TODOS OS SANTOS segue virgem após 515 anos da descoberta

Tasso Franco
01/11/2016 às 13:42
 Registra-se neste 1º de novembro os 515 anos da descoberta da Baía de Todos os Santos pelos portugueses durante a expedição exploratório comandada por Gaspar de Lemos a mando do rei de Portugal, dom Manoel, el Venturoso. A data já foi comemorada na cidade do Salvador, mas, hoje, passa em branco.

   A história é a seguinte: a esquadra de Pedro Álvares Cabral saiu de Lisboa com destino às Índias Ocidentais e um vento forte mudou a rota de suas embarcações indo parar em Porto Seguro, Extremo-Sul da Bahia, descobrindo-se, desta forma e por acaso, um Novo Continente, a Terra da Santa Cruz, apelidada assim antes de ser Brasil (de brasa, de pau de brasa da cor vermelha, pau Brasil) sob a inspiração de Pero Vaz de Caminha o religioso que oficiou a primeira missa entre nós.

   Daí Cabral deixou dois ou três grumetes entre os nativos e levou consigo dois deles e mais algumas quinquilharias para mostrar em Portugal que havia descoberto novas terras. De Porto Seguro, Cabral seguiu para as Índias e quase não volta vivo a Portugal. Sua expedição foi um fracasso e das dezenas de naus voltaram três ou quatro bem estragadas.

   Dom Manoel só não mandou encarcerar Cabral porque ele contou a novidade sobre o Novo Mundo e mostrou as provas: os nativos e seus papagaios, arcos e flechas, e homens nus como viviam, apelidados de indígenas, pois, Cabral quando aportou em Santa Cruz de Cabrália atual achou que tinha chegado as Índias. 

   A Corte então decidiu mandar uma expedição exploratória com base nas informações cartográficas de Cabral para mapear esse novo mundo. E assim foi feito com Gaspar de Lemos no comando e Américo Vespúcio na cartografia.

   As naus de Gaspar de Lemos desceram desde o cabo de São Roque, data do dia do santo, na Costa da atual Paraiba; cabo de Santo Agostinho, PE; desembocadura do Rio São Francisco (4 de outubro) até chegar a Bahia  onde ancoraram um enorme golfo (grande entrada de mar terra a dentro) a que deveram o nome de Todos os Santos (dia de todos os santos). Depois, descobriu-se que se tratava de uma baía (entrada menor do mar) e deu-se o nome de Baía de Todos os Santos.

   Todos os navegadores da época da Colônia até hoje para chegarem a Salvador a entrada é pela boca da baía, na altura da ponta do Caramuru, onde se situa o Farol de Santo Antônio da Barra, dito assim porque Santo Antônio foi o primeiro padroeiro da Bahia, o Estado. 

   Isso! De Baía saiu o nome Bahia, primeiro Capitania da Bahia, depois Província da Bahia, atual estado da Bahia.

   A Baía de Todos os Santos é uma das mais belas do mundo ainda inaproveitada de forma racional por atividades econômicas e turismo. Durante grande parte da fase colonial do Brasil, até 1763 quando a sede mudou para o Rio de Janeiro, Salvador e seu porto foram os principais logradouros do Cone Sul. 

   Na Baía de Todos há dezenas de localidades e ilhas em seu entorno sendo a mais importante delas a de Itaparica, sede de dois municípios - Itaparica e Vera Cruz. Suas águas dão o contorno da cidade do Salvador na Península de Itapagipe e banham o Subúrbio até o município de Simões Filho e foi a porta de entrada de mercadorias que deixavam o Recôncavo para abastecer a capital - carnes, frutas, verduras, tijolos, cal, etc - via Rio Paraguaçu, Iguape e até a enseada de Água de Meninos.

   Tem uma história belíssima. No atual território de Salvador, no entorno da Baía e em Itaparica viviam os nativos tupinambás, estima-se, há milênios. Chamavam a Baía de Kirimurê. Era um povo sem uma cultura avançada como os Incas, Astecas, Maias e outros das regiões andinas, especialmente do México. Desconheciam o ouro, a prata e viviam em palhoças alimentando-se da caça e da pesca. Na Bahia, a resistência aos colonizadores praticamente não existiu. Foram expulsos de suas terras e dizimados.

   Um dos primeiros europeus a se instalar no território do entorno da Baía foi Diogo Alvares, o Caramuru, posto pelos franceses para fazer negócios de Pau Brasil, em 1510; depois deu-se instalação da Vila Velha do Pereira pelo donatário Pereira Coutinho, em 1536 (Capitania Hereditária da Bahia); e a fundação da Cidade do Salvador por Tomé de Souza, a partir de março de 1549, com a instalação de um governo geral no Brasil. 

   Os franceses e sua França Antártica optaram pelo Rio e nunca invadiram Salvador. Os holandeses assim o fizeram em 1624/1625, época do padre Antônio Vieira o qual teria assistido tudo na sacristia da antiga catedral da Sé. Não tivemnos piratas por acá porque não havia prata e ouro. Ele optaram pelas águas da Grân-Colômbia e pelo Golfo do México. Os ingleses só vieram acá com Dom João VI, escoltando a corte, e depois nosso ouro.

   A revitalização da Baía, o pólo náutico da Baía, e todas essas promessas políticas sobre o 'velho golfo' têm mais de 50 anos. Alguma coisa já foi feita, mas, ainda falta muito ou quase tudo. Até regatas oceânicas que chegamos a tê-las no inicio do século XXI não tem mais. O equipamento mais importante da baía é a Marina do Loureiro e o turismo deus alguns passos à frente em Itaparica, mas tropeçou.

   É um turismo que vive de topadas e a Baía de Todos os Santos, majestosa, com o forte mais imponente de toda costa brasileira, o Forte do Mar, segue bela, esbelta, uma oferenda damãe natureza, em parte, ainda virgem 515 anos depois da descoberta.