A vitória dos atletas brasis e a força do candomblé na Olimpíada

Tasso Franco
19/08/2016 às 09:10
  O repórter Anthony Henandez, do Le Monde, extraplou com opinião pessoal atribuida ao técnico Phillipe d'Encause do então campeão olimpico do salto com vara, o francês Renaud Lavinelli, o qual ao perder o ouro na disputa com o brasileiro Tiago Braz, sugeriu (opinião de Hernandez) que a vitória do brasis foi coisa do candomblé, de forças ocultas da magia.

   É impressionante que, ainda hoje, um jornal como o Le Monde, principal veículo das midias impressa e web francesa, algumas pessoas ainda encarem e entendem o candomblé como uma magia negra, uma coisa do outro mundo que provoca o mal. Lavinelli não tem nada a ver com esse fato. O atleta, no entanto, queixou-se da torcida brasileira e fez comparações a momentos do nazismo.

   O candomblé é um culto religioso, uma religião que se baseia na adoração e no respeito as coisas da natureza, a terra, a água, as plantas, seus tradicões e lendas originárias do povo africano. Há vários modelos de candomblés de nações diferentes - ketu, angola, kabinda, caboclo, etc - e variações diferentes na AL - santeria cubamna, o vodu do Haiti, a umbanda do Rio e outros.

   Na Bahia, como em outros estados brasis, há uma relação sincrética entre o candomblé e a religião católica, herança da colonização portuguesa, onde o povo mescla as duas crenças num mesmo personagem. Assim, por exemplo, São Roque é igual a Omolu/Obaluaê; São Jorge é Oxóssi e assim por diante.

   Algumas autoridades no campo religioso do candomblé rejeitam essa união; assim como setores da igreja. Em Salvador, já houve um cardeal, dom Lucas Moreira Neves, que abominava essa dualidade. E, no candomblé, mãe Stela do Axé Opô Afonjá também abomina, entendendo que santo é santo; orixá é orixá.

   Agora, mudar a cabeça do povo é dificil. E tanto a igreja católica; quanto o candomblé se beneficiam do sincretismo.

   O candomblé não atua visando o mal como supôs o jornalista francês. Alias, não é só o europeu que assim pensa. No Brasil, e aqui na Bahia a gente vê muitos bozós e pembas direcionados a determinadas pessoas que representam, em tese, forças divinatórios do mal pra prejudicar alguém.

   Tanto que, quem passa por um bozó posto numa encruzilhada, benze-se três vezes. Como se dissesse assim: 'vade retro. Isso é lá pra outro'.

   O Bahia já teve vários mandingueiros, o mais famoso era Lourinho. Nada do que fez resolveu a vida do tricolor. O Vasco teve um famoso mandingueiro. Creio, aliás, que quase todo clube de futebol tem. Mandigueiro e santeiro. Mas, futebol ganha-se no campo.

   Já se atribui a Exu vitórias do Bahia, o famoso apito de Exu. Exu, inclusive, é visto como diabo. Quando, no candomblé é o orixá que abre o caminho. 

   Teria o atleta baiano do boxe, Robson Conceição, ganho pela força do canbomblé, ele que é negro! E Izaquias Queiroz, que é tupinambá, teria sido o candomblé de caboclo, da mata, que o ajudou? 

   Nada. Muito trabalho e treinamento duro. 

   A rigor, não se deve misturar uma coisa com a outra. Mas, como a fé remove montanha, e a cabeça do povo é inacessível aos mortais, não se duvide que, aqui na Bahia, muita gente ache que, de fato, essas vitórias foram coisas do além, da magia do candomblé.

   Axé, pois.