A inquisição do exército vermelho dos bergogliano

Anonio Socci
13/01/2015 às 11:00
Eis o que aconteceu. No dia 24 de dezembro passado, Vittorio Messori assinou um comentário pacatíssimo, no Corriere della Sera, onde, com muito respeito, ao lado de elogios para com o Papa argentino, expôs algumas “perplexidades” sobre alguns de seus gestos e declarações. Dessa forma, o escritor deu voz a um desconforto que no mundo católico é cada vez mais vasto, ainda que não seja divulgado pela mídia secularista que anda muito ocupada em dar hosanas a Bergoglio todos os dias com um comportamento bajulador que chega ao ridículo “culto de personalidade”.

Muitos bispos e cardeais também estão enjoados desse personalismo exagerado e suspeito por parte dos eternos inimigos da Igreja, os quais, de fato, colocam Bergoglio acima da Igreja.

Muitos católicos estão abismados com essa busca ansiosa por aplausos a qualquer custo por parte do Papa Bergoglio, que não se ocupa dos cristãos perseguidos e massacrados, mas, digamos, depois de ter telefonado amorosamente a Pannella, também repetiu a dose com Benigni (citando-o de forma inadequada na missa em São Pedro) e ontem também chegou a intervir na cura do médico de Gino Strada.

No mundo católico circulam piadas sarcásticas sobre essa mundaneidade espiritual. Ao contrário, Messori evitou qualquer polêmica e toda aspereza. Nem sequer chegou a mencionar o traumático Consistório de fevereiro e o Sínodo de outubro, que viu pela primeira vez um papa dar apoio e sustentar, por trás dos bastidores, as teses heterodoxas de Kasper (bloqueadas por enquanto pela sublevação da maioria dos bispos e cardeais).

Ratzinger. Messori chegou mesmo a escrever isso – de qualquer modo -, o “Papa Emérito” deu “a aprovação plena às atividades de Francisco”, o que é verdade se com isso se entende que Bento XVI declarou o reconhecimento hierárquico a Francisco, mas temos que levar em conta que o Papa Bento jamais proferiu uma só palavra de adesão ao conteúdo do magistério de Bergoglio, ao contrário, em cada declaração pública nestes dois anos, Ratzinger confirmou o conteúdo de seu Pontificado que Bergoglio contradiz nos pontos mais importantes. As considerações de Messori foram pacatas e respeitosas. 

Mas para os inquisidores bergoglianos pouco importa. Basta demonstrar qualquer simples “perplexidade” para se tornar – aos olhos deles – suspeitos de sabotagem, de complô sombrio para acabar finalmente no Index dos livros proibidos. O cato-bergoglianismo defende o ecumenismo mais incondicional com protestantes ou ortodoxos, quer o diálogo com todos, secularistas, os maçons, os comunistas cubanos ou chineses, anti-globalistas*, islâmicos, e até mesmo com os terroristas do Estado Islâmico (como foi teorizado pelo próprio Bergoglio), mas nenhum diálogo com os católicos “ratzingerianos” ou – como ele mesmo chamou no Sínodo – “tradicionalistas”(isto é, fiéis ao Magistério de todos os tempos). Aqueles são “espancados”.

Então, em rajadas, eles alvejaram Messori. O primeiro a fazê-lo foi Luigi Alici, ex-presidente da Ação Católica – por assim dizer – martiniano, o qual definiu o artigo de Messori como “um exercício insuportável de jornalismo oblíquo” . Alici condena “escritores e jornalistas” que fazem comentários críticos sobre a “pessoa chamada para liderar a Igreja” (ou seja sobre a escolha de papa Bergoglio),  enquanto defende que o que deve ser “dessacralizado” é o próprio papado enquanto tal. De fato, ele elogia a ”obra providencial de dessacralização da figura do papa” que Francisco conduz “de maneira extraordinária”.

Na verdade, a doutrina católica diz exatamente o oposto de Alici: a sacralidade é própria do ofício papal (a “figura do papa”), não da pessoa, falível e pecadora, que, por sua vez, ocupa-o

Outro que chegou a se desencadear contra Messori foi Leonardo Boff, um dos nomes-símbolo da Teologia da Libertação na América do Sul. Boff exaltou Bergoglio e atacou, depois de Messori, o seu “amado Joseph Ratzinger” e “os outros Papas anteriores”. Boff é um ex-frade que em 1984 recebeu uma sentença negativa da Congregação para a Doutrina da Fé, presidida por Joseph Ratzinger. Em 1992, após várias advertências de João Paulo II, abandonou o hábito religioso. Suas posições impregnadas de marxismo (e agora também de new age) fizeram dele um líder anti-globalista. No dia 17 de dezembro, tornou-se público que o Papa Bergoglio ligou para ele solicitando seus livros, que servirão para preparar sua próxima encíclica sobre questões sociais e ecológicas (os conteúdos serão aqueles ouvidos no discurso papal no Centro Leoncavallo e outros centros sociais).

Boff diz: “O Papa pertence à teologia da libertação na versão argentina” . Ele acrescenta: “O Papa criticou a doutrina social da Igreja, ele a considera abstrata e não muito clara na distinção que deve ser nítida entre quem são os opressores e os oprimidos”. Apesar de ter deixado o hábito religioso, Boff diz: “eu celebro, eu faço batizados, casamentos, todos os sacramentos quando não há um padre. Os bispos sabem disso e me dizem, vá em frente. Eu me sinto bem, nesta veste de leigo”. E ninguém tem nada a dizer no Vaticano de Bergoglio, que também cancelou a suspensão “a divinis” dada por João Paulo II a Miguel D’Escoto, ministro sandinista que ainda hoje exalta Fidel Castro (isso explica o colapso desastroso de pertença à Igreja na América Latina: com pastores assim…). Finalmente, devemos mencionar o incrível ‘apelo’ intitulado “Não aos ataques contra o Papa Francisco” (Como? Com amordaçamento? Com a prisão dos dissidentes? Com a deportação para a Sibéria?).

O texto, com um abaixo-assinado da fina flor do cato-progressismo histórico, de Don Paolo Farinella a Alex Zanotelli, Don Santoro delle “Piagge” a Don Luigi Ciotti e das “Comunidades de  Base”, lança-se de cabeça contra o artigo de Messori, definindo-o como um “ataque direcionado e frontal”, “uma verdadeira declaração de guerra”, até mesmo “uma ameaça de caráter mafioso”. É engraçada esta conversão ultrapapalina do velho mundo da contestação. E esta vontade de censura? Não foi exatamente o cato-progressismo que se desencadeou na crítica contra os antecessores de Bergoglio? De resto, uma reação tão furiosa de intolerância contra Messori se fez notar até mesmo nos ambientes da corte bergogliana. 

E o diretor da revista Avvenire [ndr: da Conferência Episcopal Italiana] anteontem criou uma página inteira para demonstrar seu zelo ultra-bergogliano e condenar o pacato artigo do mais famoso escritor católico italiano, como se tratasse de um herege perigoso. Algo jamais visto, se recordamos o obséquio com o qual Avvenire sempre tratou certos clérigos que atacavam duramente Papa Wojtyla e Ratzinger.
O Conclave. É bem conhecida a reverência de Avvenire pelo cardeal Martini, que, nos seus últimos anos, divulgou críticas bem duras ao Pontificado de Ratzinger. Mas o “papa conservador” era humilde, aberto, com ele havia liberdade e tolerância. Em vez disso, o atual “número um” em palavras faz louvores  à “parresia”, mas, em seguida, de fato não suporta críticas e tem um estilo de comando sul-americano, que produz um clima de terror na Cúria. Resta então a pergunta de como é que um representante da “teologia da libertação”, como definido por Boff (agora consultor de Bergoglio), conseguiu conquistar o papado. 

A resposta está em um conclave apressado e confuso (provavelmente com algumas violações das regras, portanto, com uma possível nulidade da eleição). O Colégio Cardinalício mais conservador que se pode recordar foi persuadido a votar em um papa em continuidade com João Paulo II e Bento XVI quando, na verdade, estava votando no candidato da esquerda cato-progressista. Hoje muitos cardeais estão consternados. E tudo parece surreal. No Natal, trezentos dançarinos de tango alegremente se exibiram para o aniversário de Bergoglio no adro da Basílica de São Pedro, enquanto no mundo se intensifica o massacre dos cristãos.