Os feirantes são de Feira de Santana como o céu é do avião

Zé Neto
19/11/2013 às 09:45
Os problemas que são reclamados pelos comerciantes no Centro de Feira de Santana com relação ao abandono, que acontece especialmente na Sales Barbosa e na Marechal Deodoro, devem nortear decisões políticas e administrativas muito contundentes, mas nunca excludentes. Ações importantes, mas que não criem na cidade o caos ou a depressão.

Digo isso porque tenho visto falar muito no "Pacto Pela Feira" e, dentre outras coisas, numa certa remodelagem do comércio. Devo dizer que não haverá remodelagem se não houver uma atitude de construção de espaços que possam ser úteis para a remoção e readequação dos ambulantes e camelôs que estão na área central da cidade, hoje desorganizados, criando situações que nem para eles próprios têm trazido dividendos positivos.

Também não adianta achar que vamos chegar neste local e tirar barracas, tirar ambulantes, vendedores de frutas, vendedores de roupa e outros utensílios e barracas informais e acharmos que vamos resolver o problema; o grave problema do desastre que se abateu sobre a área, tão valiosa para a nossa economia.

Aliás, diga-se de passagem, o comércio ainda é e continuará sendo a mola propulsora da economia de Feira de Santana, onde se gera mais emprego, mais renda, mais possibilidade de desenvolvimento econômico. Mas é bom lembrar que comércio é um conjunto formado pelos setores formal e informal. 

E o comércio informal, diga-se de passagem, hoje tem contribuído até mais no conjunto das ações econômicas, mesmo que carecendo de mais regulação e regulamentação. O que é outra tarefa geral e que não passa apenas por tirar ou não retirar das ruas ambulantes informais. Em minha opinião, Feira precisa urgentemente de uma recomposição de todos os espaços onde atualmente funciona o Centro de Abastecimento. Inclusive, penso que ele não deve mais funcionar como centro para atacado e varejo. Deve funcionar apenas com o varejo!

O atacado, por sua vez, tem de nossa parte o oferecimento de uma área do Governo do Estado, localizada às margens da BR-116, próximo ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Fica ali, logo após a ponte do Rio Jacuípe, e é um espaço de aproximadamente 32 mil m², que pode servir plenamente para a fachada de um novo Centro de Abastecimento para a venda de atacado.

Além disso, temos dito sempre que se o Governo do Estado for requisitado, via Desenbahia, para uma ação no sentido de se buscar um financiamento amplo – como já estamos fazendo, por exemplo, com os vendedores de carne, num debate muito avançado –, estamos abertos para o diálogo. 

A ideia é a construção e reconstrução do Centro de Abastecimento, todo ele voltado para o varejo. Esta intervenção deve ter um caráter inovador, de fazer com que as pessoas que ali trabalham sejam requalificadas e reorientadas para um novo momento e que o local tenha uma ligação direta para o regional do transbordo por passarelas; que também se construa um terminal de transporte alternativo e complementar, ou seja, de kombis e vans, para que lá haja um fluxo maior de passageiros que vem do interior, das cidades circunvizinhas; e que possamos, daí para a frente, ter a orientação de que espaços como estes ou precisam ser recuperados ou construídos para que haja possibilidade de realocação de parte daqueles ambulantes e feirantes que hoje buscam na região central da cidade sua sobrevivência.

No mais, há de se pensar numa estruturação de um shopping aberto no Centro de Feira, onde outra parte de camelôs pode ser adequadamente reorientada e fazer com que na Estação Nova se pense num plano de utilização permanente do espaço durante toda a semana, sendo ele todo requalificado. Cabe salientar que naquele espaço da Estação Nova, grande parte dos feirantes que atuam no domingo e no sábado à tarde são oriundos do Centro. Eles reclamam muito que neste local as vendas são menores a cada dia e lá, na Estação Nova, seria um suporte para que eles mantivessem sua sobrevivência.

Portanto, situações precisam ser enfrentadas. Decisões políticas precisam ser tomadas. Preconceitos devem ser deixados de lado. O comércio de Feira tem de se modernizar!
Os comerciantes são vítimas, os ambulantes acabam entrando pelo mesmo caminho. E o que nós temos que cobrar, como estamos aqui a cobrar e a refletir, é a necessidade de que as decisões sejam tomadas de forma adequada, planejada, orientando acima de tudo a inclusão social, a percepção de que a economia informal tem um papel importante no município e nós não podemos abrir mão disso.

Na forma desestruturada que tem caminhado em todos os seus moldes, não colabora da forma que tem que colaborar e oferece riscos muito grandes. Um estudo recente feito pelo Corpo de Bombeiros, por exemplo, aponta que um dos pontos de maior risco de incêndio em Feira está localizado no maior centro comercial de ambulantes e informais, que é a Sales Barbosa.

Portanto, estamos à disposição para participar desse debate, ao tempo em que oferecemos as interlocuções que forem necessárias junto aos governos Federal e Estadual para, juntos, encontrarmos saída para resolver esse problema de toda Feira de Santana. É hora de pensar grande, deixar a política partidária de lado e outros interesses menores, que é o que defendemos e acreditamos.

 *Zé Neto é deputado estadual e líder do Governo na Assembleia Legislativa da Bahia.