Tasso Franco
30/03/2013 às 07:40
Salvador completa 464 anos de sua fundação como a cidade sede de região metropolitana mais atrasada do país. É a única entre as grandes cidades - SP, Rio, Recife, BH, Brasília - que não dispõe de metrô. Tem o pior serviço por ônibus do país com atendimento péssimo à população. É um dos centros urbanos de dimensão onde as pessoas mijam nas ruas, nos muros, nos postes e nos monumentos. Tem uma das populações mais mal educadas do Brasil.
Vocês viram o miserê que aconteceu na Arena Fonte Nova, hoje. Desorganização geral, bombas de gás, o povo espremido, agredido. Quiseram até destruir uma área do equipamento. Salvador é assim, essa esculhambação.
O que salva Salvador são suas belezas naturais e sua cultura, ainda que nos últimos anos até a cultura tem sido desprezada, amensquinhada. De sua mancha histórica original não existe nada preservado, salvo o traçado das ruas do centro histórico da época de Tomé de Souza. Até a rua Direita do Palácio, a mais antiga do país, foi transformada em Rua Chile, uma vergonha.
Do original construtivo da época de Tomé de Souza não restou nada. Zero. O atual Palácio Rio Branco é do século XIX, a Câmara do século XVIII, a Sé de Palha não restou nem o pó, a Sé Primacial que tinha testada voltada para a Baía de Todos os Santos (única no gênero na cidade) foi derrubada pelas picaretas do progresso, em 1939.
O clamor foi tal que daí surgiu o IPHAN, órgão importante na preservação do patrimônio que ainda resta, mas, jussárico, sem verbas. O Forte do Mar está caindo aos pedaços e ninguém toma uma providência. É monumento único no país, de uma história belíssima.
O único cocar tupinambá que existe da origem de Salvador está no Museu de Saint Malô, no Noroeste da França, local onde foi batizada Quayadin, depois Catarine du Brézil (Catarina Paraguaçu), em 1528, levado ao que se supõe por Jacques Cartier. Aqui na Bahia não existe nada da cultura tupinambá original. As aldeias foram destruidas pelos portugueses depois da catequese jesuítica.
Onde é hoje o Mosteiro de São Bento havia uma aldeia tupinambá. Por que os beneditinos , considerados tão zelosos, não guardaram nada desta aldeia. Colocaram no chão e ergueram o Mosteiro de São Sebastião. Na Piedade, a mesma coisa. Em Paripe, idem. No Monte Calvário, Carmo, do mesmo modo.
E a Vila Velha do Pereira da Capitania Hereditária, de 1636, nem a sombra. Destrtuiram tudo. Da casa palacete do donatário Pereira Coutinho só as cinzas. Hoje é o Forte de São Diogo. Da casa de Caramuru nem o pó. Restou o Mosterinho de Nossa Senhora da Graça que não é o original de Catarina/Caramuru.
Então, Salvador é isso aí. Tem muita coisa bonita, especialmente sua mancha histórica, belas praias, muitos monumentos belíssimos, mas, a cidade grande mais atrasada do país.
Agora, vejam só: os negros passaram anos lutando na África do Sul para acabar o apartheid. Aqui estão trabalhando, alguns deles, para criar um Arfródromo carnavalesco e isolá-los num gueto.
