A QUEDA DE MANO e o cheiro de mofo

Nara Franco
26/11/2012 às 22:31
O maior furo do ano foi a demissão de Mano Menezes. Todas as redações de esporte do Brasil estavam preparadas para qualquer coisa, menos para a queda do técnico da seleção. Sua saída pegou todo mundo de surpresa. Ficou no ar aquela sensação de "o que diabos aconteceu?". Depois do fiasco na Copa América e da medalha de prata nos Jogos Olímpicos, o ex-técnico do Corinthians parecia ter sobrevivido as provas de fogo do cargo. Mas logo quando ganha da Argentina em plena Bombonera, Mano cai. 

Dá para entender? Não. Qualquer especialista, até mesmo os mais renomados, não esperavam a demissão. Os torcedores muito menos. Mas esses, pelo que se vê no posicionamento da CBF, são meros coadjuvantes. Ou melhor: figurantes! Torcedor pra que, quando seu produto tem mais de 15 patrocinadores e astros como Neymarketing, digo, Neymar?

A seleção hoje não faz parte do cotidiano brasileiro. Quando criança, lembro de acompanhar pela revista Placar, a preparação das seleções do Telê para as Copas. Eram meses de concentração na Toca da Raposa. Matérias diárias, jogos no Maracanã, Pacaembu, Morumbi. Conhecia todos os jogadores. Mesmo os do Flamengo, meu grande rival. A seleção era "a" seleção. 

Hoje a seleção disputa seu milésimo jogo numa partida fria em sei lá onde contra sei lá quem. Uma peladinha fria, sem graça. Depois reclamam quando cariocas e paulistas vaiam o time. Cariocas e paulistas são exigente, dizem. E têm de ser mesmo. Porque hoje a seleção é coisa para inglês ver, literalmente. A seleção brasileira de futebol deixou de ser um time para ser uma máquina de ganhar dinheiro. Poucos enriquecem e alguns muitos sofrem com o time. Comigo não, violão. Tô fora! Quem, vascaíno e vascaína, como eu, conviveu com Eurico Miranda, vai entender o que estou falando. 

Cito Eurico Miranda porque ao ver o semblante de José Maria Marin não tenho como não lembrar do pitoresco ex-presidente do Vasco. Todos os atuais dirigentes da CBF cheiram a mofo. Marin é um retrocesso. 

A Confederação Brasileira de Futebol é uma entidade privada, todo sabemos. mas a jóia de sua coroa tem uma história rica que pertence a cada brasileiro. Demite-se um técnico sem ao menos prestar contas ao povo, aquele mesmo que vai aos estádios e que faz esse time vibrar, o porquê de tal decisão. Falta transparência, respeito, modernidade, ética. Nos bastidores, o circo pega fogo. O vice de Marin, Marco Polo, é investigado pela Polícia Federal. Rodrigo Paiva, responsável pela comunicação da CBF, ameaça largar o barco após anos no cargo. Andrés Sanchez, direto de seleções, chutou o balde em praça pública. Fica a pergunta: dá para torcer?

Nosso futebol pertence a milhões, mas é comandado por poucos, que fazem dele um triste palco de cenas de corrupção e de episódios nebulosos. Uma pena. A Copa das Confederações vem aí e faltará muito pouco para a Copa do Mundo. Como diria o ez-prefeito do Rio de Janeiro, é grave a crise. 

Enquanto a imprensa fecha os olhos ao autoritarismo da República Federativa de São Paulo à frente da CBF e especula sobre o sucessor de Mano, vejo as possibilidades de treinadores e rezo para o Timão ganhar o Mundial da Fifa.