SÃO JOÃO + 20 E AS ATRAÇÕES LOCAIS COMO EXEMPLO

Amauri Teixeira
27/06/2012 às 08:04
Foto: BJÁ
Zito do Forró, Sidney do Acordeon e banda com apenas 4 pessoas, em Serrinha
   "Se tem fogueira acesa, pode ter certeza, é noite de São João". Já teria dito o centenário Luiz Gonzaga diante desta longa estiagem que castiga o nordeste brasileiro. Porque, não são os fogos de artifícios, as estrelas de tevê, nem tão pouco, os enormes palcos que tornam os festejos juninos tão famosos no Brasil inteiro. Talvez, longe da pirotecnia e das atrações midiáticas, cada cidade possa rever a maior festa popular da Bahia.


   Sem necessidade de inventar a roda, o São João de 2012, pode virar um marco na história cultural dos 250 municípios baianos que já decretaram situação de emergência por conta dos efeitos da seca. É a oportunidade de notabilizar o triângulo, a zabumba e a sanfona. Incentivar a formação e promoção de grupos de forró pé-de-serra. Ou seja: produzir cultura local para pessoas que estão vindo de toda parte do país.

   Porque, o verdadeiro motivo de todos viajarem tantos quilômetros até o interior da Bahia está contido exatamente no que há de mais puro e original no São João: a vida do sertanejo.


   Quem "desce" para Jacobina, Juazeiro, Jaguarari, Senhor do Bonfim, Nova Fátima, Cruz das Almas, Miguel Calmon, Piritiba, Uibaí, Irecê, entre outros tantos municípios, não viaja para dançar música eletrônica na boate exclusiva do camarote andante, nem para comer e beber os coquetéis e pratos mais exóticos da última estação da moda.

   Nada contra nenhuma dessas "mudernidades", mas, cada qual no seu cada qual. A expectativa de quem visita esses municípios é encontrar um "xodó", "o verde dos teus olhos", após "ralar coxa", arrastar o pé com o "Xote das Meninas", adoçando a boca com licor de jenipapo e enchendo o buxo com macaxeira, aluá e pamonha.


   Com a redução do orçamento das festas - provocado pelo mais extenso período de seca dos últimos 31 anos - o São João de 2012 impõe ao mercado da música sertaneja uma reflexão sobre o inflacionamento dos cachês, gerado pela supervalorização de atrações de fora do próprio circuito junino.

   A disputa para encaixar no calendário local as "grandes estrelas nacionais", estimulou ao longo dos anos uma espécie de guerra fiscal entre os municípios, sufocando os arranjos culturais e econômicos regionais em prol de uma demanda externa sem qualquer compromisso com o contexto sócio-político de cada lugar.


   É claro que pela própria dimensão geográfica da festa, presente nos 417 municípios da Bahia, o São João apresenta uma vocação natural de solidariedade com os demais gêneros artísticos. Mas, o caráter predatório utilizado por agências de eventos para vender o cachê dos seus artistas às prefeituras baianas, exige do gestor público uma reação firme contra os abusos cometidos por essas empresas com - é claro - o consentimento dos artistas.

  
Infelizmente, raríssimas ou nenhuma iniciativa espontânea ou promocional, sinalizou qualquer gesto da classe artística do ramo da música em solidariedade ao difícil momento que vive o povo sertanejo. Pouquíssimos ou nenhum artista doou o seu cachê ou cantarolou uma única canção sem ter tido o seu dinheiro devidamente depositado pela prefeitura na sua conta.

  
Por essas e outras, nada mais justo que aumentar a grade de programação das nossas festas com atrações locais, a exemplo de forrozeiros tradicionais, como Ademário Coelho, Targino Gondim e novas formações que assisti em Irecê, recentemente, como a Banda Nordeste, Jurandi Alves, Léo Silva, Forró Furado, Kravo e Kanela, Cristiano Neves, Dourado Coração Sertanejo e a atração principal, Waldonys do Acordeon.

   Com grupos e bandas compostos por homens e mulheres da terra, que aguardam o mandacaru aflorar na seca e apontar a chuva que chega no sertão. Em meio as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, nada mais atual.


*Amauri Teixeira é deputado federal pelo PT e economista.