ORA-SE NA PROCISSÃO DE CORPUS CRISTHI EM SSA DESDE 1549

Tasso Franco
06/06/2012 às 16:00

Foto: DIV
Igreja d'Ajuda, em SSA, antiga Sé de Palha, onde aconteceu a primeira procissão
  A procissão de Corpus Christi que se realiza nesta quinta-feira, 7, em Salvador, é a mais antiga da cidade.
 
   Nasceu no ano de instalação do governo-geral do Brasil, com Tomé de Souza, em 1549, encabeçada pelo padre jesuíta Manoel da Nóbrega e mais outros cinco padres que vieram com ele na primeira fase da colonização, e mais alguns portugueses da missão Tomé e da Capitania Hereditária, tupinambás aculturados e os representantes da Corte, Tomé de Souza, Luis Dias, Garcia D'Ávila e outros.

  Salvo melhor juízo é a mais antiga procissão religiosa do Brasil.


   Na Bahia, por posto, no período de domínio de Diogo Álvares, o Caramuru, e de sua mulher Catarina Paraguaçu, há noticias de fundação de uma capela em louvor a Nossa Senhora da Graça (hoje mosterinho beneditino do bairro da Graça), erguida ai por volta de 1530, e na fase que se seguiu com a instalação da Capitania Hereditária sob o comando de Francisco Pereira Coutinho, o "Rusticão", e a instalação da Vila Velha do Pereira, no atual Porto da Barra, mas, não há noticias de que tivesse ocorrido alguma procissão ou ato louvatório a santos e ao corpo do Senhor.


   O próprio Pereira Coutinha e sua trupe que chegaram a Bahia em 1534 não cultuavam santos pois não há registros disso na Vila Velha, que durou de 16 anos, até que Tomé de Souza resolveu erguer a cidade do Salvador noutro local e não ao rés-chão como era a vila, atual Porto da Barra. Era o local de presa fácil em invasões e tiros de canhão.
  
   Com a chegada da Corte mais institucionalizada, "Rusticão" já tinha morrido pelos tupinambás após naufrágio na ilha de Itaparica retornando de uma viagem da capitania de Porto Seguro após tentar selar paz com Caramuru, Nóbrega constrói a Sé de Palha, hoje, Igreja de Nossa Senhora d'Ajuda, no centro histórico de Salvador, e promove a procissão do corpo do senhor, que teria ocorrido em meados de junho de 1549.


   A origem desta festa é do século XIII e surgiu na diocese de Liège, na Bélgica, por iniciativa da freira Juliana de Mont Cornillon, que em suas visões Jesus pedia uma festa anual em honra do sacramento da Eucaristia. Em 1247, realizou-se a primeira procissão eucarística pelas ruas de Liège, como festa diocesana, tornando-se depois uma festa litúrgica celebrada em toda a Bélgica.

   Em 11 de agosto de 1264, o papa Urbano IV decretou, pela Bula Transiturus, a instituição da Festa de Corpus Christi, mas a celebração só ganhou caráter universal no séc. XIV, quando o papa Clemente V confirmou a Bula de Urbano IV, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial.

   Em 1317, o papa João XXII publicou na Constituição Clementina o dever de se levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas. A partir da oficialização de Corpus Christi, a festa passou a ser celebrada todos os anos na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade.


   Na Bahia, essa tradição se mantém ininterrupta desde Nóbrega. O primeiro bispo que chegou a Salvador, dom Pedro Fernandes Sardinha, aqui aportou em 22 de junho de 1552, logo tomou posse do bispado (a Diocese da Bahia foi criada em 15 de fevereiro de 1551 pela bula Super Specula Militantis Ecclesiae, do papa Julio III) pregando seu primeiro sermão na festa de São Pedro e São Paulo, em 29 de junho.


   Portanto, Sardinha só comandou a procissão de Corpus Christi, em 1553, e o fez por apenas mais dois anos, pois, em junho de 1556, depois de escaramuças com o filho do governador Duarte da Costa, que era um devasso e o bispo o criticava, Sardinha foi devolvido a Portugal e naufragou na costa de Alagoas sendo devorado pelos índios Caetés.

   Veja que a influência politica na Bahia vem desde essa época. Duarte da Costa pressionou a Corte em Portugal para tirar Sardinha e Dom João III conseguiu novo bispo para a Bahia com a Santa Sé, só chegando a Bahia o segundo bispo, dom Pedro Leitão, em 4 de novembro de 1559.


   Os jesuítas, no entanto, mantiveram a procissão até a chegada de dom Leitão, os anos se passaram, 163 ao todo, e, nesta quinta-feira, 7, a procissão do Corpo do Senhor será presidida pelo arcebispo primaz dom Murilo Sebastião Krieger, da Congregação do Sagrado Coração de Jesus,CSJ.