PESCADORES SÓ ACREDITAM NA TELEVISÃO

Jolivaldo Freitas
05/05/2012 às 08:03
Foto: BJÁ
Pescador de Buraquinho, Lauro, trata peixe a beira do Joanes com o mar
Parece até brincadeira. Dois assuntos me chamaram a atenção no feriado do Dia do Trabalho, em que todo mundo vira vagabundo, e até os vagaus e vadios comemoram como se tivessem trabalhado algum dia. Sempre me chama a atenção no Porto da Barra um grupo que vejo há anos, todos os dias tomando cerveja, comendo acarajé, bebendo cachaça até a noite. Os caras não pescam, não tomam conta de carro, não fazem bico e nem vendem drogas e não são herdeiros. Como conseguem dinheiro para a farra diária é um mistério.

A mesma coisa acontecia na praia da Boa Viagem quando eu era adolescente. Todo dia tinha uns adultos que jogavam futebol. Terminava e iam nadar. Cansavam e seguiam para não fazer nada, mas sempre andavam com roupas da moda e alguns tinham até bicicletas novas, embora de famílias paupérrimas. E ainda iam tirar chinfra com as meninas no Cine Roma, pagando refrigerante e pipoca.
 
Então sei que você, leitor, e a senhora leitora estão doidos para me fazer a pergunta que não quer calar:

- Ô miséria! Se você vê tudo isso o que anda fazendo?
 
 É mesmo! Estou numa vagabundagem terrível. Juro que segunda-feira saio para procurar um trabalho. Mas, voltando aos dois assuntos que me chamaram a atenção por estes dias. O primeiro parece piada. Todo mundo sabe que Fernando Henrique Cardoso estabilizou a moeda, a mulher dele Dona Ruth criou os moldes do Bolsa Escola que com o PT virou Bolsa Família. Com isso, a população miserável saiu da lama e começou a comer, deixou de morrer feito formiga de açúcar e hoje se dá ao luxo de comprar aparelhos eletroeletrônicos.
 
Numa casa que visitei ano passado na região de Juazeiro, tinha TV, videocassete, fogão, máquina de lavar e micro-ondas. O dono da casa só esperava que a companhia de energia elétrica puxasse os fios até lá, numa distância de cinco quilômetros. Também não tem água encanada. Os aparelhos fora da caixa, envolvidos no plástico para não pegar poeira. Exibindo-se para os vizinhos invejosos, que dão risada. "Um dia chega luz e água e eles vão ver", me disse o feliz e visionário proprietário.
 
Isso me lembra que nos anos 1970 fui dos primeiros repórteres a fazer matéria com a tribo Pataxó Hã Hã Hães na região de Caraiva em Porto Seguro. Não tinha estrada e para chegar era meio dia de barco mar adentro.  Achava que iria encontrar uma tribo na Idade da Pedra. Fiquei pasmo. Fui recebido pelo cacique que vestia uma camisa do Flamengo. A indiada tinha bicicleta Monark. Num canto, um velho Jeep.
 
Nem perguntei como chegou lá nem para que servia se não havia estrada e nem caminhos.
 
Falar em mar, vocês já perceberam que não existe mais aquela velha solidariedade entre os pescadores, coisa que foi tão decantada pelo escritor Jorge Amado em seus livros? Já haviam me chamado a atenção. Antigamente quando algum barco sumia no mar, todos os outros saíam em busca dos náufragos. Hoje, os pescadores ficam esperando notícia pela TV e que a Marinha dê sorte de achar, se o peixe não comer.